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Os prémios, os prémios

Os prémios de literatura voltam a estar na ordem do dia.

José Luís Peixoto venceu o Prémio Daniel Faria e nada se pode questionar que logo atiram a etiqueta da inveja, essa coisa feia. O facto de ser um Prémio que visa incentivar o aparecimento de novos poetas, nada diz a ninguém, a não ser "invejoso".

As palavras do jurado Jorge Reis-Sá, editor das Quasi, que publicará a obra vencedora, dizem bem da falta de senso de que enfermam algumas cabeças:

“Foi mesmo uma grande surpresa, mas uma surpresa boa, porque vem dar força e credibilidade ao prémio."

Eu pensava que surpresa, surpresa, surpresa mesmo boa, seria encontrar um novo valor, não?? Não daria, isso sim, mais força e credibilidade ao prémio? Parece que não.

"Durante a leitura dos originais, já tinha suspeitado que se tratava de um autor experiente, com grande domínio da linguagem e das técnicas de escrita, e não alguém que envia o seu primeiro livro."

Pergunto: é isto um incentivo a quem "envia o seu primeiro livro"? Desgraçadinhos.

“Gostava de salientar a extraordinária humildade do Zé Luís, que ao querer ficar associado a este prémio, e ao nome do Daniel Faria, correu o risco de perder para um autor desconhecido ou, pior ainda, de receber uma mera menção honrosa.”

Pergunto: precisará o JLP de provar alguma coisa a alguém?
Pergunto: uma menção honrosa, como dizem as palavras, não é uma menção ... HONROSA?? Ou será apenas uma honra de derrotado?

A coisa não é nova: veja-se o recente Prémio Nuno Júdice atribuido pela CM de Aveiro, vencido por esse consagrado papa-prémios da literatura portuguesa que é José Jorge Letria. O facto de, também este, ser um prémio que pretendia incentivar novos poetas, nada diz a ninguém.

Enfim, como eu, ingénuo, crente, diria ridículo, concorri a esse, podem chamar-me invejoso à vontade.

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