27 Março
Esta noite tive um sonho.
Acordei com o coração a tentar forçar a saída do corpo e todo mijado.
Nesse sonho, vivia numa terra que me pareceu esta terra. E nessa terra,
nesse dia, nesse pequeno espaço de tempo percorrido pelo meu sonho,
homens e mulheres, novos e velhos, pretos, brancos e amarelos
abraçavam-se.
A onda de emoção era tão grande que muitos não conseguiam sobreviver ao
acelerar dos seus corações e caíam fulminados; outros, como gatos,
mijavam-se de excitação e alegria imensa.
Os jornalistas tentavam acorrer com a sua parafernália tecnológica aos
inúmeros grupos que espontaneamente se formavam por todo o mundo: da
Finlândia à África do Sul, do Japão à Guatemala, ignorando que ninguém
estava a ver ou a ouvir as suas reportagens.
Ainda pensei que esse era o dia em que “todos os povos falarão uma só
língua” mas em lado nenhum se ouviam vozes. As pessoas limitavam-se a
trocar abraços, sorrisos, lágrimas ... e mijo.
Pensei: é esta a terra
Uma espécie de, nem sempre, diário.