Valores para o nosso tempo
Ando sempre atrasado. Sempre.

Só por estes dias me tenho entretido com o livro “Impasses” - aquele ali - e confesso: estou rendido à sua clareza, ao seu “despreconceito”, à coragem dos autores. É uma daquelas obras brilhantes, de interrogação, de convite à abertura de espírito, de convite ao pensamento LIVRE.

Notável.

Deu-me para pesquisar reacções ao dito livro e claro – confesso aqui um cheirinho de preconceito - já sabia o que iria encontrar.

A maioria das críticas aparecem em blogs (quer sob a forma de posts quer sob a forma de comentários) e em meia dúzia de linhas (às quais terão dedicado alguns minutos - em duas penadas portanto) pretendem contrariar – com ou sem argumentos - o que os autores procuram dizer num livro ao qual terão dedicado, no mínimo, algumas semanas; enfim.

Não me parece que se possa categorizar estas críticas como má fé; são apenas fruto de “indigência intelectual”.

Já quanto a um artigo que encontrei no Esquerda (1), bom, má fé penso ser pouco para o definir.

O artigo dá notícia de uma conferência realizada pela Fundação Gulbenkian subordinada ao tema “Valores para o nosso tempo”.

Começa assim:

«Nos dias 25,26 e 27 de Outubro de 2006, a Fundação Gulbenkian realizou um importante Conferência subordinada ao tema "Que Valores para o Nosso Tempo".»

E a determinada altura informa (sublinhados meus):

“O responsável pela Conferência foi o filósofo Fernando Gil, recentemente falecido.
É dele o texto que segue, de apresentação da Conferência. Interessante lembrar que Fernando Gil defendeu, num livro escrito de parceria com Paulo Tunhas e Daniéle Cohn, "Impasses", a agressão brutal da coligação EUA/Reino Unido ao Iraque como necessidade absoluta para defesa do ocidente! Infelizmente já não pôde ver, em toda a sua plenitude, o êxito da missão em que Bush se empenhou.”

Segue-se o referido texto de apresentação da conferência e mais abaixo o texto da comunicação de Eduardo Lourenço.

Pergunto: porque é “importante lembrar ....” ??

Como é possível dizer que “Fernando Gil defendeu a agressão ...” ??

Que prazer existe no inominável cinismo de um: “Infelizmente já não pôde ver ...” ??

Será má fé ??

Será apenas indelicadeza para com a memória de um homem que já não pode defender o seu pensamento a não ser pelas obras que deixou, e essas, pelos vistos, não as compreende o autor do artigo?

Será “indigência intelectual” ??

Estupidez é com toda a certeza.

Serão a estupidez e o cinismo alguns dos “valores para o nosso tempo”, este nosso desgraçado tempo ?


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