Entrevista na rádio, rápida. O noticiário, impaciente, à espera da sua vez.
Uma entrevistada, Drª, respondia a questões sobre os estabelecimentos prisionais; os dramas que lá se vivem: a droga, as doenças infecto-contagiosas, a claustrofobia; assuntos importantes sobre os quais há que pensar para reformular.
Tudo certo.
A Drª, não sei se por força da rapidez da entrevista que exigia palavras mais depressa do que o seu cérebro poderia elaborar, iniciava, invariavelmente, cada resposta, cada afirmação, com uma expressão que me lembrou algo que escrevi em tempos:
"No nosso ponto de vista..."
O plural do possessivo justifica-se já que ela estava a falar em nome de uma organização, um conjunto de pessoas.
Já o "ponto de vista" não consigo explicar muito bem.
Não estaria a falar, com toda a certeza, segundo o MEU ponto de vista!!!
Por isso, encarei a utilização da expressão como muleta, como pequeno atraso, enquanto o seu cérebro procurava colocar em ordem as palavras que se lhe iriam seguir.
O facto de utilizar a expressão tantas vezes, levou-me a pensar no que diabo seria o "ponto de vista": se seria um ponto tão estático, imóvel, de onde eles viam tudo?!?
E levou-me a pensar se não seria melhor eles experimentarem mudar, algumas vezes, de ponto de observação, em função do problema que estivessem a observar?!?!
E concluí que eventualmente o fariam, e então, cada um dos "pontos de vista" que referiu a Drª não seriam a repetição de um mesmo ponto de observação mas sim de um diferente ante cada objecto observado.
E assim se justificaria a repetição até à exaustão.
Tudo certo.
A coisa complicou-se quando a dita Drª, numa das muitas repetições da já referida expressão lhe acrescenta: "eu penso que!"
"No nosso ponto de vista, eu penso que ..."
E esta pequena frase deitou por terra todo o meu raciocínio de até então.
Voltei a lembrar-me da tal coisa que escrevi em tempos, enquanto mudava de emissora.
Uma entrevistada, Drª, respondia a questões sobre os estabelecimentos prisionais; os dramas que lá se vivem: a droga, as doenças infecto-contagiosas, a claustrofobia; assuntos importantes sobre os quais há que pensar para reformular.
Tudo certo.
A Drª, não sei se por força da rapidez da entrevista que exigia palavras mais depressa do que o seu cérebro poderia elaborar, iniciava, invariavelmente, cada resposta, cada afirmação, com uma expressão que me lembrou algo que escrevi em tempos:
"No nosso ponto de vista..."
O plural do possessivo justifica-se já que ela estava a falar em nome de uma organização, um conjunto de pessoas.
Já o "ponto de vista" não consigo explicar muito bem.
Não estaria a falar, com toda a certeza, segundo o MEU ponto de vista!!!
Por isso, encarei a utilização da expressão como muleta, como pequeno atraso, enquanto o seu cérebro procurava colocar em ordem as palavras que se lhe iriam seguir.
O facto de utilizar a expressão tantas vezes, levou-me a pensar no que diabo seria o "ponto de vista": se seria um ponto tão estático, imóvel, de onde eles viam tudo?!?
E levou-me a pensar se não seria melhor eles experimentarem mudar, algumas vezes, de ponto de observação, em função do problema que estivessem a observar?!?!
E concluí que eventualmente o fariam, e então, cada um dos "pontos de vista" que referiu a Drª não seriam a repetição de um mesmo ponto de observação mas sim de um diferente ante cada objecto observado.
E assim se justificaria a repetição até à exaustão.
Tudo certo.
A coisa complicou-se quando a dita Drª, numa das muitas repetições da já referida expressão lhe acrescenta: "eu penso que!"
"No nosso ponto de vista, eu penso que ..."
E esta pequena frase deitou por terra todo o meu raciocínio de até então.
Voltei a lembrar-me da tal coisa que escrevi em tempos, enquanto mudava de emissora.
JANELA Mar de gente e uma janela. Eu, aqui, vejo tudo. Ninguém me vê mas eu vejo tudo. Tanta gente, tantos caminhos: uma teia, gotas de tinta fresca e sopros de indiferença. Como eu, cada uma dessas pessoas poderá dizer: "Mar de gente, eu vejo tudo!". Ah! Mas para além desta janela só eu vejo. novembro 2002 |
A Drª tinha, entretanto, parado de dizer "no nosso ponto de vista", o noticiário das 9 começava e aí vinham notícias de desgraça que eu não queria ouvir; iam falar-me novamente de pontos de vista: o do Bush, o da ONU, e do Iraque e, como já disse há dias, a razão está de todos os lados precisamente, sei hoje, porque todos agem e falam de acordo com os seus pontos de vista.
E tudo está certo!