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LEITURAS

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Depois de "Cinco séculos à mesa", "Comer como uma rainha" e quatro anos depois de "A vida secreta da cozinha portuguesa", Guida Cândido volta ao prelo com "São Favas Contadas - Dos vegetais ao vegetarianismo". Guida Cândido é historiadora, de arte e da alimentação, e académica, mas coloca de certo modo em segundo plano esta segunda qualidade para nos fazer chegar, leigos, de forma simples mas sem comprometer o rigor, a história (as histórias e também as estórias) do uso dos vegetais num contexto de "produto principal" e, de uma certa forma, do vegetarianismo. Começa por traçar a história da prática da dieta vegetariana ao longo dos tempos, da antiguidade clássica à época contemporânea, aflorando relações desta prática com variadas questões de ordem culinária, económica, religiosa, ética e de saúde. De seguida apresenta de forma sucinta os 10 livros com edição portuguesa sobre os quais colocou a sua atenção, e que abarcam um período alar...

Azul é o lápis

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... castanha é a merda. Quando a "tecnologia" coloca uma das tuas publicações "para baixo no feed", tu tens possibilidade de reclamar dessa decisão.  Não te permitem que redijas um texto, porque obviamente teria de ser lido por gente declaradamente analfabeta, mas podes justificar o pedido de revisão através da escolha de uma de 4 opções (ver a imagem): - A primeira é apenas estúpida: a tecnologia não compreende nada;  - A segunda é uma tautologia, é por isso que ali estamos a reclamar; - A terceira uma choraminguice bufa 👉 sem nexo porque parte do princípio que a tecnologia, às vezes, acerta; 🙄 - A quarta é esforçada mas fica aquém do realmente necessário; rachá-las de cima abaixo. Na falta de uma quinta "penso que a tecnologia é estúpida, e é absolutamente inconsequente pretender discutir razões com uma maquineta estropiada apelidada abusivamente de "inteligência", opta-se pela única possível embora estúpida, isto é, entra-se no jogo: ...

Rimas idiomáticas

Tropecei por estes dias num fragmento (5 tercetos) de um poema de António Nobre. O poema, inserido em  Despedidas - António Nobre (1902) , tem uma estrutura rímica engraçada. Algo como: ABA BCB CDC DED EFE ... Todos partiram, todos fugiram. Os ladrões assaltaram-me á estrada Quizeram-me matar. Não conseguiram. Ninguem me resta, não me resta nada! Fui enganado nos meus leaes amores. Já tive de salvar a minha vida á espada. No meu jardim semiei lilazes, Passado tempo vi nascer ortigas; Cada dia que nova dôr me trazes? Lavrei canduras e colhi intrigas, Nasceram odios onde puz perdões. Não digas mais meu coração! não digas Procreei gigantes vi nascer anões, Plantei nesta alma vinhas da piedade E vindimei, Senhor! Ingratidões! Agora reparai na rima do primeiro ("No meu jardim semiei lilazes") e último ("Cada dia que nova dôr me trazes?") versos do terceiro terceto, e de como rimam idiomaticamente com "Fui enganado nos meus leaes AMORES." "Lilazes" por...

Mãe

"Ora, uma noite de véspera de feriado, em que não houvera, pois, estudo; uma noite longa, de borrascoso Inverno, meu pai leu mais tempo, num livro ilustrado de gravuras e cujos cantos inexplicavelmente nós víamos roídos dos ratos. De onde a onde, a voz de meu pai, alterada, velava-se, por largo espaço; ao depois, não me recordou mais o que fora que ele nos estivera lendo; mas uma passagem, essa, não se me esvaiu nunca. Era alguém que estava relatando, não sabia eu a quem, a sua vida; e esse alguém era orgulhoso e infeliz; que maior desdita do que, com receber a vida, dar a morte a sua mãe? O desgraçado tomava soberba dessa catástrofe. Diria: «Custei a vida a minha mãe, e o meu nascimento foi a primeira das minhas desgraças.» Mas dissera: «Sinto o meu coração e conheço os homens. Não sou feito como nenhum dos que tenho visto; ouso crer não ser feito como nenhum dos que existem. Se não valho mais, pelo menos sou diverso.» E acrescentara duramente: «Se a natureza fez bem ou mal em pa...

Viagens nos livros - Goethe

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Spoleto - Umbria "Subi até Spoleto e ao aqueduto, que serve também de ponte para ligar um monte ao outro.  Aqueduto Aqueduto Os dez arcos que se estendem pelo vale erguem-se com os seus tijolos centenários, e a água continua a jorrar em todos os lugares de Spoleto. Esta é a terceira obra dos Antigos que vejo, e em todas se manifesta o mesmo sentido grandioso. A sua arquitetura é como uma segunda natureza posta ao serviço do cidadãos: assim vejo o anfiteatro, o templo e o aqueduto. Catedral Santa Maria Assunta Anfiteatro Anfiteatro Agora compreendo como tinha razão em detestar todas as arbitrariedades, como por exemplo aquele caixote de inverno no Weissenstein, nada com coisa nenhuma à volta, um monstruoso ornamento de pasteleiro, e o mesmo se passa com milhares de outras coisas. Tudo coisas mortas à nascença, pois o que não tem uma existência autêntica não tem vida e não pode ter grandeza nem vir a tê-la." Goethe Viagem a Itália  Em Spoleto, de Bolonha a caminho de Roma