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A mostrar mensagens de maio, 2024

Rimas idiomáticas

Tropecei por estes dias num fragmento (5 tercetos) de um poema de António Nobre. O poema, inserido em  Despedidas - António Nobre (1902) , tem uma estrutura rímica engraçada. Algo como: ABA BCB CDC DED EFE ... Todos partiram, todos fugiram. Os ladrões assaltaram-me á estrada Quizeram-me matar. Não conseguiram. Ninguem me resta, não me resta nada! Fui enganado nos meus leaes amores. Já tive de salvar a minha vida á espada. No meu jardim semiei lilazes, Passado tempo vi nascer ortigas; Cada dia que nova dôr me trazes? Lavrei canduras e colhi intrigas, Nasceram odios onde puz perdões. Não digas mais meu coração! não digas Procreei gigantes vi nascer anões, Plantei nesta alma vinhas da piedade E vindimei, Senhor! Ingratidões! Agora reparai na rima do primeiro ("No meu jardim semiei lilazes") e último ("Cada dia que nova dôr me trazes?") versos do terceiro terceto, e de como rimam idiomaticamente com "Fui enganado nos meus leaes AMORES." "Lilazes" por...

Mãe

"Ora, uma noite de véspera de feriado, em que não houvera, pois, estudo; uma noite longa, de borrascoso Inverno, meu pai leu mais tempo, num livro ilustrado de gravuras e cujos cantos inexplicavelmente nós víamos roídos dos ratos. De onde a onde, a voz de meu pai, alterada, velava-se, por largo espaço; ao depois, não me recordou mais o que fora que ele nos estivera lendo; mas uma passagem, essa, não se me esvaiu nunca. Era alguém que estava relatando, não sabia eu a quem, a sua vida; e esse alguém era orgulhoso e infeliz; que maior desdita do que, com receber a vida, dar a morte a sua mãe? O desgraçado tomava soberba dessa catástrofe. Diria: «Custei a vida a minha mãe, e o meu nascimento foi a primeira das minhas desgraças.» Mas dissera: «Sinto o meu coração e conheço os homens. Não sou feito como nenhum dos que tenho visto; ouso crer não ser feito como nenhum dos que existem. Se não valho mais, pelo menos sou diverso.» E acrescentara duramente: «Se a natureza fez bem ou mal em pa...

Viagens nos livros - Goethe

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Spoleto - Umbria "Subi até Spoleto e ao aqueduto, que serve também de ponte para ligar um monte ao outro.  Aqueduto Aqueduto Os dez arcos que se estendem pelo vale erguem-se com os seus tijolos centenários, e a água continua a jorrar em todos os lugares de Spoleto. Esta é a terceira obra dos Antigos que vejo, e em todas se manifesta o mesmo sentido grandioso. A sua arquitetura é como uma segunda natureza posta ao serviço do cidadãos: assim vejo o anfiteatro, o templo e o aqueduto. Catedral Santa Maria Assunta Anfiteatro Anfiteatro Agora compreendo como tinha razão em detestar todas as arbitrariedades, como por exemplo aquele caixote de inverno no Weissenstein, nada com coisa nenhuma à volta, um monstruoso ornamento de pasteleiro, e o mesmo se passa com milhares de outras coisas. Tudo coisas mortas à nascença, pois o que não tem uma existência autêntica não tem vida e não pode ter grandeza nem vir a tê-la." Goethe Viagem a Itália  Em Spoleto, de Bolonha a caminho de Roma