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Extracto de “Mulher em branco” de Rodrigo Guedes de Carvalho «A mãe há-de desculpar-me, se é que estas coisas se desculpam, eu não ter estado presente na sua morte. Mas se quer saber há uma outra coisa pior que quero que me desculpe. Que gostaria que me desculpasse. Quando a mãe morreu, eu fiquei na mesma. É certo que não estive presente porque o pai não me chamou, o pai não me avisou, nem a mim nem ao Paulo, como tanto lhe pediu, certamente estará recordada. O pai afinal não nos telefonou coisa nenhuma, como lhe garantia a sussurrar-lhe ao ouvido, para as enfermeiras não escutarem, o pai queria sossego quando visitava o hospital. Andava já encantado lá com a rapariga, que visitava a tia dela mesmo ao seu lado. É até estranho pensar que a mãe morreu quase ao mesmo tempo que a tia dela, libertando as duas, sem o saberem, o casal de pombinhos da prisão dos comas, das macas, dos cheiros, das esperas. E quando a mãe morreu eu fiquei na mesma. Acho que estava no emprego, ou já nem sei se es...