Leituras I


“O recém-nascido não concebe que o seu corpo é mais parte de si próprio do que os objectos que o rodeiam, e brinca com os dedos dos pés sem a mínima noção de que lhe pertencem mais do que a sua roca; e é só pouco a pouco, através da dor, que compreende a realidade do corpo. São necessárias experiências idênticas para que o indivíduo se torne consciente de si próprio; contudo há uma diferença: enquanto todos igualmente adquirem consciência do corpo como um organismo completo e separado, nem todos adquirem igualmente a consciência de si próprios como uma personalidade completa e separada. O sentimento de diferenciação dos outros surge para a maioria com a puberdade mas não se desenvolve sempre a um grau tal que torne perceptível ao indivíduo a diferença entre o indivíduo e o seu próximo. São estes, os tão pouco conscientes de si próprios como as abelhas numa colmeia, os afortunados na vida, pois têm os melhores ensejos de felicidade: as suas actividades são partilhadas por todos e os seus prazeres só são prazeres porque fruídos em comum; vêmo-los dançar na segunda-feira de Pentecostes em Hampstead Heath, aplaudir numa partida de futebol ou assistir a um desfile real das janelas de um clube de Pall Mall. Por sua causa tem o homem sido considerado um animal sociável.”


“Servidão Humana”, W. Somerset Maugham

Ed. “Livros do Brasil”, 13ª edição, pág 42

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