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A mostrar mensagens de agosto, 2003
Está sempre a meio caminho entre o longe e o perto, tão longe do aqui quanto perto do agora, a vida que passa ao largo, à vista, ali: um pouco à mão. Só um pouco de desequilíbrio seria suficiente; um pouco menos de rigidez seria suficiente. É o medo da queda, ou talvez melhor: o medo do resultado da queda e uma certeza não demonstrada de que uma queda é sempre para baixo. É a gravidade da decisão que somos criados a assimilar. Sou levado (levo-me) a suspeitar que as grandes coisas foram, apenas, quedas para cima, de quem não se deixou acostumar à gravidade da regra.
CONTANDO CORVOS O bosque que esconde os edifícios da universidade lembra contos de fadas e guerreiros que empunhavam espadas montados em éguas. Caminhos de terra batida, por pés que ninguém lembra, serpenteiam evitando os plátanos, e rasgam o relvado que cobre toda a área. Acho que nunca temos tempo suficiente para podermos considerar uma cidade estranha, num país estranho, familiar. Gente igual que vemos diferente; ruas iguais a tantas diferentes das minhas. A língua! A língua que nos emprestam mas sabemos ser só deles. O "eles" que significa tudo o que não é "nós" e jamais será. Tantas maravilhas difíceis de fotografar e, claro, impossíveis de descrever. Tanto e tanto que guardamos. Tanto e tanto que esqueceremos. E eu, perdendo a conta a cada minuto, sigo contando corvos.
Sobe o rio uma leve ondulação tocada pela brisa, de feição. O regresso distraído seria, ainda mais, afastamento – o mundo ao contrário. Sob esta ilusão, tão vívida visão do apocalipse, a massa de água segue o seu curso de sempre: concreta, doce, paciente com os diques, implacável com o mar. Bastaria segui-la. Casa, é para onde nos levam forças invisíveis e só parcialmente explicáveis.