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Azul é o lápis

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... castanha é a merda. Quando a "tecnologia" coloca uma das tuas publicações "para baixo no feed", tu tens possibilidade de reclamar dessa decisão.  Não te permitem que redijas um texto, porque obviamente teria de ser lido por gente declaradamente analfabeta, mas podes justificar o pedido de revisão através da escolha de uma de 4 opções (ver a imagem): - A primeira é apenas estúpida: a tecnologia não compreende nada;  - A segunda é uma tautologia, é por isso que ali estamos a reclamar; - A terceira uma choraminguice bufa 👉 sem nexo porque parte do princípio que a tecnologia, às vezes, acerta; 🙄 - A quarta é esforçada mas fica aquém do realmente necessário; rachá-las de cima abaixo. Na falta de uma quinta "penso que a tecnologia é estúpida, e é absolutamente inconsequente pretender discutir razões com uma maquineta estropiada apelidada abusivamente de "inteligência", opta-se pela única possível embora estúpida, isto é, entra-se no jogo:

Rimas idiomáticas

Tropecei por estes dias num fragmento (5 tercetos) de um poema de António Nobre. O poema, inserido em  Despedidas - António Nobre (1902) , tem uma estrutura rímica engraçada. Algo como: ABA BCB CDC DED EFE ... Todos partiram, todos fugiram. Os ladrões assaltaram-me á estrada Quizeram-me matar. Não conseguiram. Ninguem me resta, não me resta nada! Fui enganado nos meus leaes amores. Já tive de salvar a minha vida á espada. No meu jardim semiei lilazes, Passado tempo vi nascer ortigas; Cada dia que nova dôr me trazes? Lavrei canduras e colhi intrigas, Nasceram odios onde puz perdões. Não digas mais meu coração! não digas Procreei gigantes vi nascer anões, Plantei nesta alma vinhas da piedade E vindimei, Senhor! Ingratidões! Agora reparai na rima do primeiro ("No meu jardim semiei lilazes") e último ("Cada dia que nova dôr me trazes?") versos do terceiro terceto, e de como rimam idiomaticamente com "Fui enganado nos meus leaes AMORES." "Lilazes" por

Mãe

"Ora, uma noite de véspera de feriado, em que não houvera, pois, estudo; uma noite longa, de borrascoso Inverno, meu pai leu mais tempo, num livro ilustrado de gravuras e cujos cantos inexplicavelmente nós víamos roídos dos ratos. De onde a onde, a voz de meu pai, alterada, velava-se, por largo espaço; ao depois, não me recordou mais o que fora que ele nos estivera lendo; mas uma passagem, essa, não se me esvaiu nunca. Era alguém que estava relatando, não sabia eu a quem, a sua vida; e esse alguém era orgulhoso e infeliz; que maior desdita do que, com receber a vida, dar a morte a sua mãe? O desgraçado tomava soberba dessa catástrofe. Diria: «Custei a vida a minha mãe, e o meu nascimento foi a primeira das minhas desgraças.» Mas dissera: «Sinto o meu coração e conheço os homens. Não sou feito como nenhum dos que tenho visto; ouso crer não ser feito como nenhum dos que existem. Se não valho mais, pelo menos sou diverso.» E acrescentara duramente: «Se a natureza fez bem ou mal em pa

Viagens nos livros - Goethe

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Spoleto - Umbria "Subi até Spoleto e ao aqueduto, que serve também de ponte para ligar um monte ao outro.  Aqueduto Aqueduto Os dez arcos que se estendem pelo vale erguem-se com os seus tijolos centenários, e a água continua a jorrar em todos os lugares de Spoleto. Esta é a terceira obra dos Antigos que vejo, e em todas se manifesta o mesmo sentido grandioso. A sua arquitetura é como uma segunda natureza posta ao serviço do cidadãos: assim vejo o anfiteatro, o templo e o aqueduto. Catedral Santa Maria Assunta Anfiteatro Anfiteatro Agora compreendo como tinha razão em detestar todas as arbitrariedades, como por exemplo aquele caixote de inverno no Weissenstein, nada com coisa nenhuma à volta, um monstruoso ornamento de pasteleiro, e o mesmo se passa com milhares de outras coisas. Tudo coisas mortas à nascença, pois o que não tem uma existência autêntica não tem vida e não pode ter grandeza nem vir a tê-la." Goethe Viagem a Itália  Em Spoleto, de Bolonha a caminho de Roma

Dos pés à cabeça

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Os incríveis tapetes persas, originais, diz-se serem produzidos com pequenos defeitos propositados, na simetria ou na coloração. Obras de realização humana, é suposto não serem perfeitas; perfeito só Deus. Lembro-me do aparecimento dos computadores na produção artística (sou desse tempo), da música ao cinema, e de pensar que um dia, seria impossível ao olhar do ser humano distinguir um Robert de Niro CGI do homem real de carne e osso. E lembro-me também de pensar, de imaginar, que, nesse tempo futuro (hoje presente), o ser humano teria a obrigação de assinalar, de alguma maneira, a verdade. Na época não conhecia ainda aquela característica dos tapetes persas, pelo que o que me pareceu uma ideia minha genial já alguém, séculos se não milénios antes, a tinha tido e, o que é mais importante, efectivamente realizado. O que aconteceu à verdade nestes 2000 e tantos anos, entre os artesãos persas e os georges lucas da actualidade, na pequena viagem de um tapete até uma conversa com o ChatGPT?
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AS FOTOGRAFIAS DE LOBO ANTUNES E O TABULEIRO DE RADJABOV Teimour Radjabov é um judeu azeri de 33 anos, jogador profissional de xadrez, grande mestre desde 2001 e ocupa o 10º lugar no ranking mundial da modalidade. Radjabov venceu no início deste ano um importante torneio de partidas rápidas disputado online entre os dias 26 de Dezembro e 3 de Janeiro últimos, o Airthings Masters com prémios a totalizar 200000 dólares, 60000 dos quais reservados para o vencedor. Neste torneio participaram 12 dos principais jogadores da actualidade incluindo Magnus Carlsen, o n.1 mundial, e outros 6 da lista dos 10 melhores do mundo. Foi uma importante vitória. Os jogos foram transmitidos em tempo real e puderam ser acompanhados “ao vivo” com comentários em directo. Radjabov impressiona pela sua calma (real ou apenas aparente como acabou por confessar) e não raras vezes fecha os olhos enquanto calcula um posição mais exigente. Todos os jogadores de xadrez a partir de um determinado nível, desde logo todo

“Não existem monstros e a natureza é uma só" (1)

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Enquanto preparo o pregado que colocarei no forno daqui a pouco penso, como sempre acontece enquanto preparo pregados para colocar no forno - ou na grelha, em Darwin e interrogo-me se aquele olho terá atravessado o crânio pelo interior ou pelo exterior ou se sempre terá estado ali para me fazer questionar a normalidade da simetria. Hoje fui procurar aquela citação que sabia ter lido (o forno adquire ainda a temperatura ideal, nada a temer) e ocorre-me directamente dela a ideia do homem parasita e destruidor do planeta, inimigo da natureza, propalada por uma certa eco-ideologia do fim do mundo, como se o homem de hoje, que se supõe pior do que o de outrora muito mais frugal, ligado à terra e invejável, não tivesse sido resultado directo e inelutável da natureza ela própria. Não sendo assim, isto é, acreditando-se que o homem terá conseguido adquirir características que lhe permitem contrariar os instintos naturais monstruosos de que a doce mãe natureza o terá, perversamente