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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2003
27 Março Esta noite tive um sonho. Acordei com o coração a tentar forçar a saída do corpo e todo mijado. Nesse sonho, vivia numa terra que me pareceu esta terra. E nessa terra, nesse dia, nesse pequeno espaço de tempo percorrido pelo meu sonho, homens e mulheres, novos e velhos, pretos, brancos e amarelos abraçavam-se. A onda de emoção era tão grande que muitos não conseguiam sobreviver ao acelerar dos seus corações e caíam fulminados; outros, como gatos, mijavam-se de excitação e alegria imensa. Os jornalistas tentavam acorrer com a sua parafernália tecnológica aos inúmeros grupos que espontaneamente se formavam por todo o mundo: da Finlândia à África do Sul, do Japão à Guatemala, ignorando que ninguém estava a ver ou a ouvir as suas reportagens. Ainda pensei que esse era o dia em que “todos os povos falarão uma só língua” mas em lado nenhum se ouviam vozes. As pessoas limitavam-se a trocar abraços, sorrisos, lágrimas ... e mijo. Pensei: é esta a terra
“Hoje, num vento do norte, fogo de outra sorte, sigo para o sul. Sete mares.” canta a Sétima Legião. Será o vento frio do norte que nos empurra para o calor do sul? Será necessário? Será o sofrimento que nos empurra para a felicidade? Caramba! Pode ser, pode! E o contrário? Não é, afinal, a vida que nos leva à morte? Fiquei, de repente, preocupado: para onde “segue” alguém que, como eu, vive dias de felicidade? O que há para lá do bem?
"O Aprendiz de Feiticeiro" é um conjunto de crónicas de Carlos de Oliveira. Numa delas, "A dádiva suprema", o autor fala sobre o poeta Afonso Duarte. A crónica termina no funeral deste e com estas palavras: "Chamem um dos velhos canteiros de Ançã (a dois passos daqui) e mandem gravar na campa do poeta o epitáfio que ele próprio escreveu: A dádiva suprema é dar a vida ao silêncio de pedra que é a morte. Larga-me da vida, morte, faz-me da morte pedra. Um desses humildes herdeiros dos escopros de João de Ruão. Chamem-no depressa. Com o sol que está, as palavras ficarão doiradas." Belas palavras; de um e outro.